o Maurício. O blog do Artur é: http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/

domingo, 6 de novembro de 2011

Nautae

Por que me olhas com este olhar de além mar,
Se não trago oceanos?
Por que me olhas com estes olhos de paraíso,
Se não tenho a graça?
Por que me olhas com estes olhos verde garrafa,
Se meu conteúdo é inapropriado?
Por que me olhas, simplesmente,
Se não trago espelhos nem miçangas?
Se não sou do outro lado das ondas?
Se minhas bandeiras são informes?
Se é a dor que me arrasta e sustenta os barcos à meia nau?
Por que me olhas com este olhar de abandono,
Se minhas sedições estão esquecidas?
Se não venho tomar-te à força,
Se não venho escravizar-te?
Se não venho, simplesmente.
Sou apenas um frasco vazio,
Sem mensagem dentro.

Voluntas

Só o que não passa
É esse desejo
Que sopres meus olhos,
Que passes meio aflita,
Que fiques meio mole,
Que fites o vestido azul.
Que escales meus montes,
Que acordes a madrugada,
Com teu sorriso, semiperfeito,
Repleto de sem ausências
E assim silencie o amargo
Que trava sua língua na minha.

Et optimi pessima

Como não houvesse espelhos
O tempo cruza “a lo largo”,
Deixando um assobio:
“O melhor e o pior de mim,
É que eu passo”!

Vitrum flavum

Nem a noite,
Nem o dia,
Espantavam mais,
O homem que
Se escondia atrás
Da vidraça amarela.
Nem a dor,
Nem a graça,
Nem o vazio,
Que se escondia
Atrás do homem
Que olhava a rosa
Por trás da vidraça amarela.
Nem a rosa presa no jardim,
Nem a cor da vidraça,
Ou a cor indefinível da rosa
Que confundia o homem
Por trás da vidraça amarela.
Nada espantava o homem
Nem o século,
Ou as horas,
Nem o vento.
Só havia a vidraça amarela,
E a cor indefinível
Da rosa ali em frente.